ATA DA SEPTUAGÉSIMA SEXTA SESSÃO ORDINÁRIA DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 03-8-1989.

 


Aos três dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Septuagésima Sexta Sessão Ordinária da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que fossem distribuídas em avulsos cópias da Ata da Septuagésima Quinta Sessão Ordinária que, juntamente com as Atas da Septuagésima Quarta Sessão Ordinária e da Vigésima Sessão Solene, foi aprovada. À MESA foram encaminhados: pela Mesa, 01 Projeto de Lei do Legislativo nº 117/89 (proc. nº 2162/89); pelo Ver. Cyro Martini, 02 Pedidos de Providências; 02 Indicações; pelo Ver. Dilamar Machado, 01 Projeto de Lei Complementar do Legislativo nº 18/89 (proc. nº 2057/89); pelo Ver. Giovani Gregol, 01 Pedido de Providências; pelo Ver. Luiz Braz, 36 Pedidos de Providências; pelo Ver. Vicente Dutra, 01 Projeto de Lei do Legislativo nº 111/89 (proc. nº 2077/89. Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios nºs 632/89, do Sr. Prefeito Municipal; 829/89, da Câmara Municipal de Carazinho; Circulares s/n da Associação Brasileira de Municípios; do Dep. Estadual Tito Livio Jaeger; do Instituto de Pesquisas de Comunicação Jornalística e Editorial de São Paulo. A seguir, foi aprovado Requerimento do Ver. José Alvarenga, solicitando Licença para tratar de Interesses Particulares, nos dias três e quatro do corrente. Em prosseguimento, o Sr. Presidente declarou empossado na Vereança o Suplente Antonio Losada e, informando que S. Exª  já prestara compromisso legal nessa Legislatura, ficando dispensado de fazê-lo, comunicou-lhe que passaria a integrar a Comissão de Economia e Defesa do Consumidor. Em COMUNIDAÇÕES, a Verª Letícia Arruda informou ter recebido uma comissão de funcionários do DMAE, os quais manifestaram seu descontentamento com sistema adotado pela Direção daquele Departamento, no que se refere a eleições diretas para diversos postos de chefia naquele Órgão. Citou matéria, publicada no Jornal Zero Hora, acerca do assunto, afirmando que a crise daí decorrente terá reflexos na comunidade de Porto Alegre, caso os serviços prestados pelo DMAE sejam atingidos por ela. Criticou o Partido dos Trabalhadores pela forma como vem conduzindo as referidas eleições, lendo legislação regulamentadora das mesmas. O Ver. Ervino Besson, disse ter recebido denúncias da Diretora de Escola Estadual localizada no Jardim das Palmeiras, quanto às precárias condições de funcionamento daquele estabelecimento educacional, bem como dos respectivos prédios, que já foram, inclusive, condenados quando de avaliação técnica efetuada pelo Estado. Informou ter comparecido ao local e confirmado, além do denunciado, que as obras da nova escola encontram-se paradas, em virtude da alegação de falta de verbas. Demonstrou sua preocupação em relação às condições apresentadas por diversas escolas estaduais em Porto Alegre, registrando seu protesto pelo abandono em que as mesmas se encontram. O Ver. José Valdir leu notícia publicada no Jornal Correio do Povo, acerca de depredações realizadas pela população, em diversos ônibus na Cidade de Londrina, Paraná, em razão de aumento no preço das tarifas do transporte coletivo, bem como referiu fatos semelhantes, ocorridos em João Pessoa, pelos mesmos motivos. Salientou que em ambas as Cidades a administração está a cargo do PDT, e que, em nenhuma delas houve intervenção no sistema de transporte coletivo, como ocorreu em Porto Alegre, onde, segundo seu entendimento, o Partido dos Trabalhadores teve a coragem de intervir nas respectivas empresas e encarar o problema de frente, evitando o caos nessa área. O Ver. Luiz Machado, referindo-se a matéria publicada em jornal da Capital, a respeito da colocação de uma linha de ônibus seletivo para a Vila Restinga, disse que essa é uma conquista exclusiva da comunidade, que vem lutando há muito tempo para que isso ocorra. Ainda, comentou notícia veiculada no Jornal Correio do Povo, acerca de convênio, na área de transportes, entre a Prefeitura Municipal de Porto Alegre e a da Cidade de Nancy, na França, perquirindo sobre os critérios a serem adotados para a escolha dos técnicos da SMT que seriam enviados àquele País. O Ver. João Dib, reportando-se ao pronunciamento do Ver. José Valdir, acerca da intervenção no sistema de transporte coletivo da Capital, pelo Executivo, fez uma análise da mesma, historiando, ainda, sobre procedimentos adotados em relação às respectivas empresas, em diversos períodos nos quais atuou como técnico da Prefeitura. Criticou o PT pela maneira como vem conduzindo a referida intervenção, bem como o fato de o Executivo Municipal estar cobrando, quando da venda de vales-transporte, o aumento da tarifa do transporte coletivo, antes do mesmo entrar em vigor. O Ver. Vieira da Cunha reportou-se ao pronunciamento do Ver. José Valdir, acerca do transporte coletivo de Porto Alegre, criticando o Partido de S. Exª e dizendo que as promessas feitas quando da campanha eleitoral não foram cumpridas, considerando os sucessivos aumentos da respectiva tarifa. Declarou, ainda, ser favorável, em tese, à estatização dos serviços essenciais, ressaltando a necessidade de uma administração competente. Referindo estatísticas, afirmou que, durante o período em que o PDT esteve a frente do Executivo Municipal, houve uma redução real de dez por cento na tarifa do transporte coletivo da Capital. Em COMUNIDAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Flávio Koutzii contestou o Ver. Vieira da Cunha, acerca da atuação do PT em relação à questão do transporte coletivo, falando a respeito dos objetivos da intervenção, pela Prefeitura, naquele sistema. O Ver. Clóvis Brum disse que o PT, ao cobrar antecipadamente o aumento da tarifa do transporte urbano, beneficia os empresários em detrimento dos trabalhadores. Criticou o Executivo Municipal por, segundo seu entendimento, estar fazendo experiências a frente da administração da Cidade. Ainda, o Sr. Presidente respondeu Questão de Ordem do Ver. Vieira da Cunha, acerca da concessão de espaço, no período de Comunicações da presente Sessão. Nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente levantou os trabalhos às quinze horas e trinta e dois minutos, convidando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene a ser realizada às dezessete horas de hoje. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Valdir Fraga, Clóvis Brum e Lauro Hagemann, e secretariados pelo Ver. Wilton Araújo. Do que eu, Wilton Araújo, 2º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 


O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Havendo quórum, passaremos ao período de

 

COMUNICAÇÕES

 

Primeira oradora inscrita é a Verª Letícia Arruda, que está com a palavra.

 

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: (Lê.) Sr. Presidente, Srs. Vereadores, ocupamos esta tribuna no período de Comunicações para falarmos de um assunto gravíssimo que irá, conseqüentemente, afetar a qualidade do fornecimento de água e prestação de serviços à população de nossa Cidade.

Recebemos uma comissão de funcionários do DMAE, em nosso gabinete, os quais vieram externar seu descontentamento e suas preocupações com os acontecimentos que estão precedendo as eleições para as diversas chefias naquela Autarquia. Ficamos apreensivas com a situação, uma vez que o sistema adotado pela Direção do DMAE, com o fim de promover a eleição direta entre os funcionários para a escolha de chefias, não conta com a aprovação da maioria dos funcionários.

Diz o Diretor do DMAE que o processo eleitoral faz parte integrante do Programa Partidário do PT e que as eleições, pelas normas regimentais do Regimento Eleitoral, sairão de qualquer maneira.

Realmente, o discurso do Partido dos Trabalhadores não tem nenhuma afinidade com a prática adotada, pois numa escala de valores as decisões se processam de cima para baixo. Estranhos, muito estranhos os fatos que presenciamos diariamente nos acontecimentos vivenciados pelo PT em relação à Cidade.

No caso específico do DMAE, que inclusive é notícia no jornal Zero Hora, à página 42, sob o título “Crise Causa Demissões no DMAE”, crise esta confirmada pela comissão de funcionários. Três dos quatro Supervisores do DMAE colocaram seus cargos à disposição por não concordarem com o sistema para eleição das chefias, seguidos, também, pelos Diretores de Divisões das áreas técnicas e outras chefias.

A crise no DMAE irá se refletir na população, pois os serviços essenciais, tais como ligações de água, tratamento nas hidráulicas e tratamento de esgoto estão praticamente paralisados, tendo em vista que as Divisões estão acéfalas. Hoje, 03 de agosto, existem na Divisão de Instalações mais de mil pedidos de ligação de água e mais de quatrocentas ordens de corte de água. O motivo da paralisação é concretizado pelo cronograma das eleições, que de hoje até o dia 15 está em pleno andamento a campanha eleitoral oficial, de acordo com o Regimento Eleitoral Único do DMAE.

O art. 25 do Regimento que temos em nossas mãos diz: “O Diretor-Geral poderá a qualquer tempo, quando não for dado andamento do serviço de essencial interesse do DMAE, substituir a chefia eleita, em cargo passível de ser ocupado por funcionário em Cargo em Comissão”. Ora, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, esta é uma medida arbitrária da Direção do DMAE.

Já o art. 29 diz o seguinte: “Não serão passíveis de eleições as seguintes chefias, inclusive a Seção Gráfica, a Distrital Norte da Divisão de Água, a Equipe de Projetos II, as Equipes de Projetos II e IV, Seção de Conservação, Seção de Segurança no Trabalho, Seção de Segurança Patrimonial, Seção de Treinamento, Seção de Seleção, Equipe de Apoios Gerais”. Perguntamos: Onde está a democracia para a eleição de chefias naquela Autarquia?

 

O Sr. Nelson Castan: V. Exª permite um aparte? (Assentimento da oradora.) Só para comunicar a V. Exª e aos demais Vereadores que, por convocação, por solicitação deste Vereador e aprovada em Plenário no dia 17 de agosto, que é uma quinta-feira, às 9h30min, estará aqui na Casa o Diretor do DMAE, Dr. Guilherme Barbosa, para prestar esclarecimento e todas as informações que a Casa desejar. Dia 17 de agosto, às 9h30min, se ele estiver no cargo, evidentemente.

 

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Pode ser, Vereador, que até lá as coisas mudem. Perguntamos novamente: onde está a democracia do PT para eleger essas chefias? Os funcionários do DMAE querem que seja realizado um plebiscito para definição de eleições. O PT terá que ouvir estes funcionários e acatar suas decisões.

Estranho também foi o conserto efetuado numa casa de aluguel de um Secretário Municipal. Foi consertado o banheiro. Esta não é uma atribuição do DMAE, mas os funcionários efetuaram o serviço por ordens superiores.

Sr. Presidente e Srs. Vereadores, para que seja melhor avaliada e esclarecida a situação existente no DMAE, solicitamos à liderança do PT que traga a este Plenário os subsídios que julgar necessários para a resolução dos fatos apontados. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Ervino Besson, pelo tempo que lhe cede o Ver. Jaques Machado.

 

O SR. ERVINO BESSON: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, pela primeira vez, depois do recesso, estamos aqui nesta tribuna. Mesmo em recesso, o trabalho foi maior do que se estivéssemos em pleno andamento de nossos trabalhos normais.

Mas, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, fomos procurados pela Diretora Regina Campos, do Colégio Estadual Pedro Sirângelo, no Jardim das Palmeiras. Lá estivemos fazendo uma visita. Para nossa surpresa, e com muita tristeza, verificamos o mau estado daquela escola de ensino de nossa Cidade. Fomos informados pela Diretora que lá funciona, em dois pavilhões de madeira, o que restou de um incêndio naquela escola, no ano passado, e verificamos as péssimas condições existentes naqueles dois prédios. Tivemos oportunidade de tirar algumas fotos, estamos aqui com três fotos, se alguém dos Srs. Vereadores, Srª Vereadora, quiser olhar, as fotos estão aqui. E nos informou, ainda, a Srª Diretora, que um engenheiro da Secretaria de Obras do Estado esteve fazendo uma vistoria naqueles dois prédios e os condenou. Os condenou pelas péssimas condições dos prédios e pelos riscos de incêndio que a qualquer momento poderá ocorrer em qualquer um daqueles prédios, porque as instalações elétricas estão em péssimas condições. Mas, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, o que nos entristece é que o Estado deu início à construção de um prédio de dois pisos e a Diretora nos informou que o Estado não paga a empresa construtora, que é a Firma PROGECON, esta empresa é de Caxias do Sul, então a Diretora foi informada pelo Engº Jandler que a empresa não recebe há 180 dias qualquer pagamento do Governo do Estado.

Portanto, a empresa suspendeu as obras e, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, estive nesse Colégio sexta-feira, novamente, e lá verificamos que na outra visita que fizemos lá, constatamos que lá existia, ainda, bastante material: tijolos, madeira e outros materiais para a conclusão da obra e hoje praticamente não tem mais nada, foi roubado todo o resto do material. O que nos preocupa, o que nos entristece é a situação de abandono em que se encontram as escolas, os alunos. A situação da Cidade é preocupante. Mas eu pergunto: onde está a fiscalização do Governo do Estado? Há uma obra que tinha seu término marcado para março, depois foi prorrogado para maio, ficou para junho e, como o Governo não está pagando a empresa construtora, esta retirou o material que tinha estocado lá, parou a obra e abandonou o restante do material que se destinava à conclusão da obra. Foi roubado tudo o que restou.

 

O Sr. Luiz Machado: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Ver. Ervino Besson, na Zona Sul, que é a zona em que V. Exª participa mais ativamente dos trabalhos comunitários, V. Exª já deve ter tido oportunidade de ver o número de colégios e salas de aulas que foram recuperados. O número sobe a mais de uma dezena. Na minha área de atuação há quatro colégios com salas de aula remodeladas e havíamos recebido esses prédios do Governo Jair Soares em mau estado. É sabido que o Governador Jair Soares, durante seu período de governo, não remodelou as escolas do nosso Estado.

 

O SR. ERVINO BESSON: Nobre Vereador, eu até faria um convite a V. Exª para que fizesse uma visita a esse Colégio. Lá estudam seiscentos alunos e digo a V. Exª: se lá acontecer uma tragédia conforme a diretoria nos levou ao conhecimento, que essa escola funciona em dois prédios condenados pelo próprio engenheiro do Estado, o Sr. Governador vai ter que dar muitas explicações. Pergunto: Por que o Sr. Governador do Estado não age, se é que temos homens para fiscalizar essas obras, porque não foi só essa escola que parou a construção por falta de pagamento, existem mais escolas nesta situação e o material que está sobrando está sendo roubado. Pergunto: quem vai pagar esse material? Lamento e digo: má administração do Governo do Estado em matéria de escolas públicas. As escolas públicas estão sendo destruídas, estão sendo sucatadas, porque a própria empresa nos informou que não foi somente aquela escola, existem mais escolas que pararam a sua construção por falta de pagamento.

 

O Sr. Airton Ferronato: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Vereador, eu gostaria de esclarecer que o Governador Simon e sua equipe não estão poupando esforços no sentido de recuperar as escolas públicas estaduais e temos plena consciência de que o Sr. Governador está fazendo um trabalho sério nesta área para o bem da comunidade estudantil do Rio Grande do Sul e do próprio Estado. Muito obrigado.

 

O SR. ERVINO BESSON: Nobre Vereador, com todo o respeito que tenho por V. Exª, fico aqui com minhas dúvidas, porque estive lá por duas vezes e pretendo fazer uma visita pela terceira vez e cada vez que chego lá vejo que a situação está cada vez pior. Fica aqui o meu protesto ao Sr. Governador do Estado. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Heriberto Back, que cede seu tempo ao Ver. José Valdir.

 

O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, inicio o meu pronunciamento lendo o recorte de jornal, uma parte de uma notícia do Jornal Correio do Povo, que diz o seguinte: “A população desesperada contra um novo aumento de tarifas promoveu um enorme quebra-quebra contra dezessete ônibus, além de incendiar um carro de serviço da empresa detentora do Serviço Municipal de Ônibus. A violência é injustificável, mas diante do descrédito das autoridades brasileiras, não era de se estranhar a repetição dos fatos”.

Quem observasse atentamente o pronunciamento de alguns colegas do PDT, ontem, poderia imaginar que esta notícia era de Porto Alegre, da população se revoltando contra o aumento das tarifas, já que no pronunciamento destes Vereadores, especialmente do Ver. Elói Guimarães, parece que o transporte coletivo é ruim, é péssimo, horroroso, como diz o Ver. Dilamar Machado, em Porto Alegre, e que esta é uma situação somente de Porto Alegre, e que o responsável por tudo isso é a medida de intervenção.

Mas esta notícia não re refere a Porto Alegre, se refere à Prefeitura de Londrina. E lá houve intervenção. Acontecimento noticiado amplamente pela imprensa. Não tão amplamente, pois se fosse uma Prefeitura do PT isto seria mais explorado. Vou pedir ao Ver. Dilamar Machado que siga o meu exemplo e ouça com atenção, como eu o ouço, quando faz seus pronunciamentos brilhantes aqui da tribuna.

No dia de ontem o País foi sacudido por imagens poderosas, pois em duas grandes cidades brasileiras a população saiu às ruas, revoltada, depredando e destruindo ônibus. E este fato é trágico, mas ilustrativo. Na Cidade de Londrina, o Prefeito, que por sinal é do PDT, concedeu um aumento, através do qual as passagens passaram a 0,50 centavos, totalizando um reajuste acumulado, desde o início do ano, de 455,5%. Aqui em Porto Alegre foi de 275%. A população revoltada saiu às ruas, quebrou e incendiou ônibus, conforme li na notícia. Com a ação da polícia, instalou-se uma batalha campal com conseqüências lamentáveis. Na Cidade de João Pessoa, por coincidência, também governada pelo PDT, ocorreram fatos semelhantes, houve quebra-quebra e dura repressão. É preciso que se tirem as conseqüências de fatos lamentáveis como estes. Em nenhuma destas cidades houve intervenção do transporte coletivo, porque nestas Cidades foi aplicada a política do “laissez faire”, do deixai fazer, deixai passar, aqui ferrenhamente defendida pelo Ver. João Dib, pela Bancada do PDS e pela Bancada coerente do PDT. Pois esta política de liberdade empresarial para os serviços públicos sabidamente aumenta o custo final dos serviços pela elementar razão de entrarem no cálculo do lucro, que todo empresário busca, elementos que não deveriam entrar, como nós já denunciamos aqui nesta tribuna, aquele que é destinado à renovação de frota. Se esta situação é suportável em épocas de normalidade, ela se torna absolutamente insustentável em épocas de crise econômica e arrocho salarial, o que dá contornos exclusivos a esse problema.

Não tenho dúvidas de que a intervenção nos transportes coletivos em Porto Alegre veio sanar, e por isso as conseqüências dessa situação não se fizeram sentir plenamente. Veio evitar o caos do transporte coletivo que estava desenhado nesta Cidade. E ninguém está dizendo, aqui, que o transporte coletivo já é aquele que a população necessita. Agora, eu não tenho dúvida de que, se não fosse a intervenção, a coragem de intervir no transporte coletivo e jogar para a opinião pública e jogar para a sociedade todas aquelas falcatruas que já anunciamos aqui, e comprovadas todas elas, a situação do transporte coletivo em Porto Alegre hoje seria, aí sim, caótica. E nós estamos tendo a coragem de tomar atitudes que até são desgastantes politicamente, e a primeira vista, impopulares. A coragem de intervir, e não nos omitir no drama do transporte coletivo, a despeito de oferecer argumentos, até para a oposição nos criticar. Juntamente com o movimento popular, apresentamos um cronograma para o aumento das passagens, tivemos a coragem de fixar, por exemplo, que um dos aumentos será dia 12 de novembro, o que prova que a nossa preocupação não é fazer politicagem, não é fazer demagogia barata, mas encarar o problema de frente, pois do contrário, não estaríamos aqui discutindo com o movimento popular, três dias antes da maior eleição deste País, apresentando um aumento de passagem, e até dando um prato feito para o PDT nos criticar. Mas isso significa que temos uma política séria, coerente, com relação ao transporte coletivo. Cedo um aparte ao Ver. João Dib.

 

O Sr. João Dib: Nobre Vereador, quero dizer a V. Exª e à Casa, que o “laissez faire” nunca serviria para mim, porque sempre disse que fui um homem que assumiu responsabilidade sem ser autoritário, usou da autoridade; portanto, quem usa autoridade, não aceita o “laissez faire”.

 

O SR. JOSÉ VALDIR: Quando falo em “laissez faire”, estamos dizendo exatamente que a nossa política é a política de intervir no transporte coletivo, que é um serviço público, coisa que nunca foi feita em administrações anteriores, e que grande parte dos problemas do transporte coletivo é estrutural e que foram se gerando ao longo do tempo. O Ver. Elói Guimarães, que vem a esta tribuna criticar o transporte coletivo, como se o problema tivesse começado em janeiro, evidentemente esquece ou quer esquecer que este problema é histórico nesta Cidade. E quantas vezes na minha associação de moradores chamamos o Vereador, então Secretário dos Transportes, para debater os problemas, e quantas vezes o Vereador, na nossa associação até roubou o nosso discurso! Em uma das vezes em que lá esteve roubou o nosso discurso, porque numa reunião bastante inflamada dos moradores que reclamavam contra a falta de horário, contra o roubo de horário, das péssimas condições dos ônibus, o Vereador disse o seguinte: só tem uma saída que é colocar fogo nos ônibus. Aí se olharam as pessoas e disseram: “Puxa, o Ver. Elói Guimarães roubou o nosso discurso, está sendo mais radical”. Só que na hora que nós colocamos ao Vereador: “Mas por que a Prefeitura, que tem todos os instrumentos, não intervém no transporte coletivo?” Ele disse que isto não era possível.

Pois bem, Vereador, nós agora estamos mostrando que isso é possível e estamos fazendo a intervenção no transporte coletivo. Estamos fazendo a intervenção que nenhuma administração teve o topete de fazer. E é por isso que o transporte coletivo nesta Cidade não está pior, porque a medida de intervir foi uma medida saneadora que evitou, inclusive, o caos no transporte coletivo, quando está acontecendo nessas cidades administradas pelo PDT. Sou grato.

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Luiz Machado.

 

O SR. LUIZ MACHADO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, vou seguir o raciocínio, não o raciocínio no todo, mas vou seguir falando em transporte, uma vez que o Vereador que me antecedeu falou em transporte, José Valdir.

Quero dizer que lendo uma matéria no jornal, onde o Secretário de Transportes Antonio Hohlfeldt vai lançar, ainda este mês, um edital de concorrência para a exploração do sistema de ônibus executivos, ligando o Centro de Porto Alegre à Vila Restinga. A informação foi dada ontem pelo Sr. Secretário. Eu quero afirmar que procurei me inteirar de toda a matéria publicada nos jornais e ela não coloca a comunidade na frente. Toda esta luta foi da comunidade da Vila Restinga e associação de bairro. Isto aqui simplesmente traz o que o Secretário vai fazer, como se a comunidade, não fosse ela que lutou para conquistar isso aí. Se um Partido fala tanto em povo e diz que vai governar com o povo e trabalha com o povo, tem que reconhecer que a comunidade da Vila Restinga, as associações de bairros lutaram para conquistar isto e isto tem que ficar bem claro! É um movimento antigo, onde o Governo Alceu Collares foi muitas vezes criticado por isso aí, por não resolver os problemas de transportes, e hoje nos deparamos com esta matéria, que eu tenho um elogio a fazer, mas espero que não fique no papel, que venha, verdadeiramente, a atender a população, os moradores da Vila Restinga, principalmente no ônibus estilo seletivo, que era o que nós mais solicitávamos ao Sr. Prefeito, não só este Vereador, mas outros Vereadores da nossa Legislatura e também as associações de bairros.

Eu quero também usar o meu espaço de dez minutos para dizer que procurei me inteirar de uma matéria, ontem, no jornal Correio do Povo, que diz o seguinte: “O Prefeito Olívio Dutra e o Prefeito de Nancy, Cidade da França, assinaram um convênio de troca de experiências no setor de transporte coletivo. Em setembro, dois técnicos franceses virão a Porto Alegre e em janeiro a Prefeitura mandará duas pessoas para Nancy”. Neste intercâmbio de transporte, é a seguinte pergunta que eu faço: com referência à matéria divulgada pelo jornal Correio do Povo, último dia 2, página 7, gostaríamos de saber quais os critérios adotados pela Frente Popular para escolher os dois técnicos que irão para a Cidade de Nancy, na França, para a troca de experiências no que tange ao transporte coletivo? Esses, por sinal, continuam os mesmos, ruins e com aumento para o próximo fim de semana. Esperamos que o critério adotado seja por serviços prestados dentro da própria Secretaria, premiando, assim, os destacados técnicos da Secretaria, a não ser que os critérios sejam de filiação partidária, desempenho político-partidário ou os técnicos que apoiaram esta baderna que está hoje no transporte coletivo da nossa Capital. Mas temos certeza de que a responsabilidade, que será a indicação destas pessoas falará mais alto à consciência daqueles que irão escolher os mesmos.

Eu quero com isso valorizar os nossos técnicos da SMT, porque no episódio da intervenção preferiram contratar técnicos de São Paulo para auxiliar a intervenção e eu sempre valorizei a nossa gente, os nossos técnicos que são bem capazes e que por certo ainda com a ajuda financeira, na elaboração dos seus projetos, nós vamos fazer um grande trabalho pelo transporte na nossa Cidade.

 

O Sr. Edi Morelli: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Vereador, falando em transporte, uma ambulância não deixa de ser transporte de doentes e de feridos, o Vereador bem sabe que continuo morando na Restinga a despeito de haver uma voz corrente de que eu tenha me mudado da Restinga, mas isso não vem ao caso. O que interessa é o seguinte: é que uma ambulância foi dada à comunidade da Restinga, mas até agora ela não apareceu. Deram trinta dias e já se passaram mais de trinta dias.

 

O SR. LUIZ MACHADO: É uma boa pergunta. Uma vez que V. Exª é um comunicador na nossa imprensa e até hoje eu procuro ser ouvinte também de seu programa, mas não ouvi uma vez V. Exª fazer uso daquele microfone e denunciar o Dr. Nelson Proença pela promessa da ambulância para a Vila Restinga. Este Vereador não é executivo do Governo, é legislativo. E se a promessa foi feita pelo Dr. Nelson Proença, Secretário Especial de Ação Comunitária da Presidência da República, V. Exª use esse veículo, que é tão forte em comunicação, como o é a Farroupilha, e faça essa denúncia diretamente na Farroupilha que, por certo, vou-lhe agradecer.

 

O Sr. Edi Morelli: V. Exª interpretou mal. Não estou fazendo uma denúncia; estou fazendo uma pergunta.

 

O SR. LUIZ MACHADO: Estou aguardando, como V. Exª aguarda também, e espero que seja o mais breve possível.

O Sr. Edi Morelli: Vereador, com todo o respeito. Não fui eu que interrompi ruas na Restinga, que fiz carnaval na Restinga, porque estava recebendo uma ambulância.

 

O SR. LUIZ MACHADO: Carnaval quem sabe bem é o Ver. Artur Zanella. É o patrão da escola, o nosso nobre Vereador. A minha diversão não é muito o carnaval.

 

O Sr. Edi Morelli: Quero concluir o meu aparte. Não fiz uma denúncia, fiz uma pergunta.

 

O SR. LUIZ MACHADO: Pois volto a lhe dizer que o Dr. Nelson Proença é o homem que manda no dinheiro federal em termos de entidades comunitárias. Portanto, V. Exª tem o veículo na mão, que se chama Farroupilha, para fazer esse esclarecimento.

 

O Sr. Edi Morelli: V. Exª tem todo o direito. Mas deveria ter até honestidade neste caso. Agora que V. Exª está me cutucando, eu estou falando numa boa, V. Exª deveria denunciar o seu governo.

 

O SR. LUIZ MACHADO: O meu governo?

 

O Sr. Edi Morelli: Nelson Proença é do seu governo, Vereador.

 

O SR. LUIZ MACHADO: Até prova em contrário, ele não foi escolhido pelo meu Partido para dirigir a SEAC. Ele foi escolhido pelo Presidente Sarney, que escolhe qualquer brasileiro para governar esta Nação. Eu quero afirmar, mais uma vez, Ver. Edi Morelli ...

 

O Sr. Edi Morelli: Em seu nome, Vereador, faço a denúncia no microfone da Farroupilha, já que V. Exª não tem a coragem de ir para a imprensa denunciar a falsidade do Nelson Proença.

 

O SR. LUIZ MACHADO: O que eu quero dizer a V. Exª, Ver. Edi Morelli, é que V. Exª foi ajudado na campanha pela SEAC, então, não pode falar em seriedade quem precisa se corrigir em muita coisa. V. Exª, como muitos candidatos à vereança, foi ajudado pela SEAC em projetos políticos e, portanto, V. Exª não pode falar em honestidade. Para falar em honestidade, V. Exª sabe, é preciso ter conduta, V. Exª é um afilhado do Nelson Proença e está querendo levar o assunto para outro lado. Então, como afilhado de Nelson Proença, tem que ter dignidade, use a Rádio Farroupilha e denuncie com dignidade, não venha querer arrumar dividendos políticos nas minhas costas porque não vai conseguir nada! Sou grato, Sr. Presidente.

(Não revisto pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE: Próximo orador é o Ver. Wilson Santos. Ausente. A palavra com o Ver. João Dib.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, no dia 1º de setembro de 1956, este Vereador foi convidado para dirigir a Diretoria de Planejamento e Fiscalização da SMT. Desde esse dia, o Ver. João Dib acompanhou tudo o que aconteceu em matéria de transportes nesta Cidade. Não se calculava a tarifa e, a partir de 1958, se fez o primeiro cálculo de tarifa, cálculo feito pelo então Assistente Técnico da Secretaria de Transportes; não se tinha legislação sobre transporte coletivo, a não ser a Lei nº 723, que continua em vigor hoje; não se sabia quem era o proprietário, o que era empresa, o que não era empresa. Então, não é o nobre Ver. José Valdir quem vai dizer que ninguém teve coragem de fazer intervenção no transporte coletivo desta Cidade. Eu fiz como Assistente Técnico, eu fiz como Secretário e eu fiz como Prefeito. Parceladamente, intervim no sistema inteiro. Então ninguém vai me dizer como se faz intervenção e até como não se faz intervenção. E o “laissez-faire” não serviria nunca para mim, porque sou um homem que segue dizendo o que dizia antes: faltam neste País responsabilidade e competência. E se eu acredito que falta responsabilidade e competência, eu procurei-me informar cada vez mais e procurei exercer a minha responsabilidade. Porque responsabilidade se assume, não se transfere. Agora, dizer que não há o caos no transporte coletivo urbano é brincar de conhecer transporte. É não conhecer nada!

A Sudeste foi entregue dia 31. A intervenção repetiu os erros da Secretaria dos Transportes, no seu passado, de operadora de transporte coletivo urbano: nós adquirimos a melhor frota de transporte urbano duas vezes; a primeira vez ainda não existia a Secretaria Municipal de Transportes, era Departamento Autônomo de Transporte Coletivo, foi adquirida uma frota de 120 ônibus Renaux, dos melhores que entraram nesta Cidade. Só que, em três tempos, porque eles eram importados e porque não havia peça de reposição, não tinha mais ônibus também. Então, no Governo Leonel Brizola os ônibus foram depois espalhados pela Cidade, nos morros a gente via aqueles ônibus até tentando servir como pequena escola, ou pela coletividade tentando dar uso porque só sobraram as carrocerias. E quando parava um ônibus, porque faltava uma peça, começavam a tirar as peças daquele para substituir nos outros. E depois, no Governo Leonel Brizola, já com a Secretaria Municipal de Transportes, se importou a melhor frota, melhor do que a Renaux ainda, 60 ônibus. Em pouco tempo não tinha mais nada, também faltou coroa, faltou pinhão, faltou peça desta e daquela outra e tal. Então pára o ônibus e começam a tirar peças. Pois na Sudeste fizeram a mesma coisa: pararam ônibus do ano 1983 e começaram a tirar peças, porque a popular intervenção não sabia administrar. Tem que ter experiência, tem que ter passado, tem que ter conhecimento. Eles não tinham. Foram-se informar com a CMTC, onde tudo que não deve ser feito em matéria de transporte coletivo está lá. Então, trouxeram para cá, quando tinham aqui a melhor equipe. Agora, se mandarem para Nancy alguns novos que têm lá, vai faltar transporte lá em Nancy; agora, se mandarem os antigos da SMT, vai ter transporte também lá. Fizeram o caos, deixaram parar ônibus de 1983 e não tiraram de tráfego os de 1978/1979. Todo mundo fala que enfrentaram. Mas enfrentaram o quê? Quantos ônibus novos aconteceram nos sete meses de Governo da Frente Popular, da Administração Popular ou da popular administração? Quantos ônibus novos aconteceram? Reajustaram as tarifas. Eu não estou criticando o reajuste de tarifas, mas diziam que não havia necessidade e reajustaram quatro vezes e há uma sede de ir ao pote que até cobram antes de entrar em vigor as tarifas. Esses são os administradores, são os organizados, esses são os que impediram o caos. Não. A intervenção deveria ter sido feita na Empresa Belém Novo, que estava mal. É assim que se faz intervenção, intervém em quem está mal e se acompanha os outros. É assim que se faz intervenção. Agora, sete meses depois, ainda não sabem nada em matéria de transporte coletivo urbano. É brincadeira!

 

O Sr. José Valdir: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Vereador, gostaria de fazer duas observações em seu pronunciamento: eu quero dizer que assim como V. Exª faz cálculo de cabeça, eu vivi grande parte da minha vida viajando dentro dos ônibus da SOPAL e sei, pela experiência empírica que tenho, que os ônibus da SOPAL, não é de hoje, estão nessa situação caótica. A segunda questão seria que este País não tem pessoas de responsabilidade e de competência. Eu acho que tem e dou um exemplo: Delfin Neto é de uma competência extraordinária, tem passado e tem experiência. A questão é saber se essa competência está sendo usada corretamente. Então, me parece que isso tem que ser ponderado, porque a competência é importante, mas não é tudo, porque a competência pode ser usada para A ou B. Era isso.

 

O SR. JOÃO DIB: Vereador, eu não disse que neste País não tem gente com competência e responsabilidade. Tem. Eu me considero um deles. Conheço muitos Vereadores aqui que também o são, eu disse que faltava responsabilidade e competência e sigo dizendo; agora, sem competência ninguém faz nada e de boa vontade o inferno está cheio de gente de boa vontade. Posso contar toda a história da SOPAL. Lá os ônibus caíam aos pedaços, mas alguém vai dizer que a SOPAL não colocou ônibus da melhor qualidade agora, nos dois últimos anos, antes da popular administração? Ônibus de sessenta lugares, ônibus articulados, espera aí um pouquinho! É só não querer reconhecer. É fácil dizer que há falcatruas, que todo mundo faz falcatruas, só que ninguém prova nada. Outra vez vem a história da competência, se entender como se administra, como se calcula a tarifa, como se opera o sistema de transporte, talvez não se use a palavra falcatrua, porque sou intransigente em pensar que todos são corretos até que me provem que não são. E, aqui, veio com a maior tranqüilidade, o Prefeito. Veio para esta tribuna aqui e disse um monte de barbaridades que na mesma hora, ali da minha tribuna, revidei. Mas ficaram os documentos escritos pelo Sr. Prefeito que diz que a Sudeste perdia 100 mil cruzados por dia. Fiquei dando risada, pelas falcatruas. Cem mil cruzados era o movimento do sistema de transporte coletivo urbano todo e ele disse que uma empresa só tinha um desvio de 100 mil cruzados. Isso é fácil de dizer.

 

O Sr. Elói Guimarães: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Veja que a população já se apropriou da verdade na questão dos transportes. Ademais, há estatísticas, levantamentos feitos e veiculados pelos meios de comunicação. Então, se tem aí uma amostragem, através de parâmetros, o que dá ao transporte, hoje, em Porto Alegre, nota sofrível. Muito bem, mas veja V. Exª, em matéria de transporte, não se faz retórica nem discurso, o que o PT tem feito é retórica e discurso como se estivesse na fase pré-eleitoral. Falando sem fundamentação e fazendo retórica, veja bem um dado que deve ser colocado: critica-se o estado da frota em Porto Alegre. Então, vou dar um dado aqui. No ano passado a idade da frota de Porto Alegre estava acima da média nacional. Veja bem, a frota de Porto Alegre, no ano passado, estava acima da média nacional. Então, que história é essa de sucatamento da frota em Porto Alegre? São dados que dão a idéia de que, efetivamente, em matéria de transportes, não se faz discurso, e sim, se faz análise.

 

O SR. JOÃO DIB: Nobre Vereador, quero dizer a V. Exª que o transporte estava tão bom que até resistiu à intervenção. É a intervenção que disse que deveria mudar 453 ônibus, e que distribuiu documento para todos os Vereadores, mostrando que em dez anos foram renovados 1.200 ônibus para um total de 1.400. Então não tinha que renovar 453, tinha que renovar cerca de 200 ou um pouco menos. Quero saber quantos são os ônibus que a tal de intervenção, que tirou o transporte do caos, renovou. Isto é um dado que me seria muito gratificante saber, se foram 10, 20, ou 50, ou 100. Muito obrigado. 

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Wilson Santos, que cede seu tempo ao Ver. Vieira da Cunha.

 

O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, é impossível assistir calado a um discurso nos termos em que proferiu o Ver. José Valdir. Acho que ele perdeu uma excelente oportunidade de ficar calado. Sobre transporte coletivo, principalmente sobre a questão de tarifa de transporte coletivo, o que resta à Bancada Governista é ficar calada, porque prometeu uma coisa e está fazendo, exatamente, o contrário do que prometeu na praça pública. Ninguém desconhece o discurso do Sr. Olívio Dutra e do Sr. Tarso Genro. Prometiam que a tarifa seria menor que a inflação, chegaram num determinado momento a falar em redução da tarifa. Depois, no jornal oficial da Administração, que já tive oportunidade de exibir nesta tribuna, de junho deste ano, portanto, há pouco mais de trinta dias, a manchete é a seguinte: “Tarifa será menor do que a inflação”. E o texto desta matéria, Ver. José Valdir, se V. Exª não leu, lembro o que estava escrito, dizia com todas as linhas: “A Administração Popular mantém sua postura de não reajustar sucessivamente a tarifa”.

Sabe V. Exª quantos dias vigorará a atual tarifa de 0,35 centavos em Porto Alegre? Vinte dias, Ver. José Valdir; vinte dias é menos de um mês, dois terços de um mês. Se isso não é aumento sucessivo de tarifas, eu não sei mais o que quer dizer a palavra sucessivo. E agora vem o Ver. José Valdir, desta tribuna, como não pode falar de Porto Alegre, porque em Porto Alegre nós estamos vendo a negação do discurso do PT, é a incoerência, vem trazer exemplos de Londrina e de João Pessoa.

Eu lembro ao Ver. José Valdir que houve problema em João Pessoa. Mas sabe o Ver. José Valdir, e deve saber bem, que lá em João Pessoa houve problemas porque o Prefeito aumentou a tarifa de 0,25 para 0,35 centavos. E lá em Londrina, o Prefeito, que é do PDT, já revogou o aumento. Ontem à noite, revogou o aumento para 0,50 centavos.

Agora eu quero lembrar a V. Exª, Ver. Adroaldo Corrêa, que sorri, que o seu sorriso talvez não dure muito tempo em Porto Alegre, porque a paciência da população de Porto Alegre vai ter um limite, e só não esgotou ainda porque aqui em Porto Alegre há uma oposição responsável. O que, talvez, não haja lá em Londrina. Quem será que está por trás dessas depredações lá em Londrina? Certamente são os mesmos, Ver. Adroaldo Corrêa, que estavam por trás das tantas greves que foram feitas contra a Administração do PDT, facilmente identificáveis: os militantes do PT, que fizeram três greves, algumas com atos de selvageria contra a nossa Administração em Porto Alegre. Certamente são esses mesmos que estão lá em Londrina, insuflando a população para esses atos. Mas V. Exª não se preocupe que esta não é a prática do PDT. Esta não é a nossa prática. Nós estaremos sempre democraticamente, organizadamente, civilizadamente, trazendo desta tribuna nossa voz de denúncia. Mas jamais partiremos para esse tipo de ataque, querendo levar a população a esses desatinos, esses atos de selvageria, como nós presenciamos aqui em Porto Alegre, por ocasião daquelas três greves.

 

O Sr. José Valdir: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Em primeiro lugar, eu queria solicitar um modelo do seu panfleto, porque, de repente, é importante distribuir isso, também, na Prefeitura de Londrina, onde a passagem está 0,40 centavos. Quanto a cumprir o discurso, o PT está cumprindo o discurso, que é de intervir no transporte coletivo. Foi esse o nosso discurso na campanha e foi essa a nossa prática. Assim que a ATP quis colocar a Administração contra a parede, nós intervimos no transporte coletivo. Esta é a atitude que nós prometemos na campanha e estamos fazendo, ao contrário do Governo de V. Exª, quando o transporte coletivo estava numa situação caótica – só não admite isso quem não andou de ônibus no período – e a Prefeitura foi, simplesmente, conciliando com os empresários. Não é a nossa proposta, não foi a nossa proposta na campanha e é o que nós estamos fazendo hoje na prática.

 

O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sobre o folheto, Ver. José Valdir, eu sinto informar que eu vou privá-lo desta oportunidade de ter mais um folheto em suas mãos. Sabe por que, Ver. José Valdir? Porque as minhas finanças não agüentam mais. Se eu vou fazer um folheto cada vez que o PT aumenta a passagem, o meu salário todo, que eu ganho aqui, eu não tenho outra fonte de renda, só tenho o meu salário, vai todo só no folheto, porque, agora, é de vinte em vinte dias. O Prefeito Olívio Dutra, de vinte em vinte dias, reajusta a tarifa. Eu pensava em fazer isso, até tinha comunicado ao Ver. Heriberto Back que cada vez que houver um aumento de tarifa eu vou denunciar através de um folheto. Mas, infelizmente, eu não consigo alcançar o ritmo de reajuste do Prefeito Olívio Dutra. Quanto à intervenção, eu quero-lhe dizer o seguinte: eu tenho uma posição muito clara, eu sou favorável à estatização dos serviços públicos essenciais. Eu sou favorável. Agora, para que isto ocorra é preciso que haja um governo competente para administrar as empresas. E a Prefeitura do Partido de V. Exª está-se mostrando incompetente para administrar o serviço de transporte coletivo em nossa Cidade.   

São alguns meses de intervenção e qual foi o efeito positivo à população de Porto Alegre? O serviço não melhorou e a tarifa aumentou acima da inflação. Então, eu não posso vir aqui na tribuna defender a estatização do serviço de transporte coletivo na Cidade, enquanto a Cidade estiver sendo governada por alguém que já demonstrou a sua incompetência na administração dos serviços. Em tese, eu sou plenamente favorável. V. Exª contaria comigo até para defender esta proposta, se houvesse alguém com competência suficiente para administrar este serviço em Porto Alegre. A intervenção mostrou que nós não temos isto. O Governo de V. Exª se mostrou despreparado para administrar o serviço de transporte coletivo da Cidade. E o que é pior: mostrou que está ainda muito mais bem preparado para dar aumento de tarifa. Eu não canso de repetir, até porque uma mentira, quando repetida várias vezes, acaba se transformando em verdade. E o PT repetiu tanto que o Collares aumentou, durante o seu Governo, as tarifas acima da inflação, que a maioria da população já estava com esta idéia.

E eu trouxe, e tantas vezes quiserem trarei novamente a esta tribuna os dados estatísticos, oficiais que demonstram que a inflação, no triênio em que a Cidade foi administrada pelo PDT, foi de 8.274%. Dados do IBGE, dados oficiais. E o aumento de tarifa, de 1º de janeiro de 1986 a 31 de dezembro de 1988 atingiu 7.400%. Houve mais de 10% de redução real de tarifas durante a Administração do PDT em Porto Alegre. E o PT, como é que vem se portando em relação a isto? O Ver. Décio Schauren exibe um sorriso irônico, mas eu estou trazendo dados reais, Vereador, dados do IBGE. A inflação oficial foi de 8.274%. É só V. Exª pesquisar. E o aumento de tarifas foi de 7.400%. Houve redução real de tarifas durante a Administração Alceu Collares. E durante a administração que V. Exª defende, há um aumento acima da inflação. Aliás, V. Exª mesmo, ontem, veio à tribuna e admitiu. Usou a expressão ligeiramente, quando disse que é verdade, a tarifa durante a nossa administração está ligeiramente superior à inflação. Mas de fato está. V. Exª tem que admitir isto. O PT está reajustando a tarifa do transporte coletivo da Cidade acima da inflação. E o que é pior: estes reajustes não estão sendo acompanhados por uma melhoria no serviço de transporte coletivo da Cidade. Esta é que é a verdade. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Clóvis Brum): Liderança com o PT.

 

O SR. FLÁVIO KOUTZII: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, evidentemente que o PT não vai calar a boca, não vai deixar de falar, como sugere o Líder Vieira da Cunha, pela mesma razão que ele não poderia falar nunca mais, se levássemos em conta os três anos de absoluto arrocho salarial na administração dos salários dos municipários que, agora, na oposição, se sente autorizado. Acho que a verdade é que houve uma escolha de governo, uma escolha na relação com os trabalhadores, e nós temos uma outra, é claro, atitude com relação a isso. Primeira questão que gostaria de chamar a atenção, dentro do limite de tempo de hoje, é que me considero positivamente desafiado pelo Ver. Vieira da Cunha sobre as suas famosas “tabelinhas”, porque nas minhas é diferente, elas também vêm, provavelmente, das mesmas fontes, fazem as confrontações, e nós sustentamos, e em outra oportunidade faremos os números, que, efetivamente, até o último aumento, e esse é o caráter da minha intervenção sobre o assunto, nós tentamos sustentar e dar, matematicamente, claro e demonstrado que a tarifa foi abaixo da inflação.

O segundo elemento que quero sublinhar é que esse tema das fichinhas, ele é sempre muito revelador, sempre provoca algumas mobilizações do Ver. Dilamar, porque o senhor é especialista em fichinhas. Lembro-me do senhor com o saquinho na mão, aqui, mas, Vereador, o que acontece é o seguinte: acho que o Ver. José Valdir fez uma intervenção muito corajosa, porque o que ele tratou de dizer é que há dificuldades, mas, que é evidente que o oposto da demagogia é a tentativa, e o tempo vai demonstrar, da coragem de enfrentar um problema com toda a sua complexidade: é verdade que não tínhamos experiência? É verdade! É verdade que há um tremendo poder econômico na mão de cada um dos empresários e daqueles que partilham dos seus interesses do ponto de vista político, ideológico? É. Se trata, ou não se trata especialmente a bancada que se pretende de esquerda, de um conflito de interesses profundamente marcados? Trata-se. Se trata ou não se trata de recuperar para este Município empobrecido mais recursos? Sim. E qual é a intervenção do PDT nesta batalha que passa pelo respeito às normas jurídicas, porque nós estamos em frente à legalidade e em processo democrático, o que a Prefeitura está querendo fazer? O que é o centro em questão? É a inoportunidade de cobrar. Considera inoportuno, desde ontem, ou de anteontem a fichinha pelo novo valor, ou é a tentativa perseverante da Prefeitura de recuperar a administração através da Carris e de mais três empresas sob intervenção, daquilo que permite, além da venda de fichas, mais recursos.

Então há uma batalha muito clara nesta Cidade. Nós, sim, não há nenhuma confusão, nós queremos recuperar integralmente o controle da comercialização das fichas. Como a justiça o impede, nós nos valemos da mesma lógica jurídica que o parecer sustentou que isto só pode e deve ser feito pelas empresas privadas, cada uma das proprietárias, para usar a nossa titularidade sobre três empresas e mais aquela que é pública para passar isto para nós. Esta é a luta que está se dando. Sobre esta luta é que eu queria saber de que lado estão os companheiros do centro-esquerda. Sou grato.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Com a palavra, o Ver. Clóvis Brum.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente, Ver. João Dib, a coisa hoje não está fácil nesta tarde. O PT e o PDT conferindo, estatisticamente, quem conseguiu sacrificar mais o povo com o aumento da tarifa. É impressionante esta disputa. Agora, pela inexperiência, realmente, está provando que é o PT. Pela inexperiência, já não digo pela experiência, porque não se pode colher figos dos abobrais. Se colocar pessoas para dirigir empresas como estas, com esta quantidade de ônibus, com uma atividade complexa como é a operação do transporte coletivo, pessoas que conhecem ônibus porque andam de ônibus e alguns até nem andam de ônibus, é um problema sério. Eu sempre disse que a coisa tinha piorado em nível de transporte coletivo em Porto Alegre, desde a posse do PT. Eu disse que o PT estava correndo na frente da inflação. Agora vem o Ver. Flávio Koutzii, Líder do PT, nesta tribuna e confirma que efetivamente nós estamos um pouquinho além da inflação, mas isto nos próximos vinte dias desaparecerá. Quer dizer, o Partido dos Trabalhadores se dá o direito de sacrificar os trabalhadores com uma passagem acima da inflação em benefício direto dos empresários e justifica que isto será só por vinte dias e que daqui a vinte dias a inflação já empata com o preço do transporte coletivo.

Ora, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, este não é o discurso que ouvi e até admirei do PT na sua campanha eleitoral, não foi esse o discurso do PT que ouvi na frente das fábricas. Mas, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, por isso que eu digo: tem que se tomar cuidado quando se faz uma campanha eleitoral, não se pode improvisar, não se pode em hipótese alguma fazer aquilo que não se sabe. Isto é fazer experiência com o dinheiro do povo. Verdadeiramente, o PT está fazendo isto. Eu aceito, eu admito que, quando vem o orçamento para esta Casa, a Casa autoriza a receita e a despesa, e a Administração aplica segundo a Lei Orçamentária. Agora, o endividamento que será cobrado na justiça pela má administração do PT pelo processo de intervenção, isto a Câmara não aprovou e a Prefeitura vai pagar. E quem irá pagar não é o Olívio Dutra, não é a Bancada do PT, quem vai pagar é o povo trabalhador, este é quem irá pagar as experiências que o PT está fazendo na administração de Porto Alegre.

Então, vem à tribuna a Liderança do Governo Municipal dizer que sim, que reconhece que está-se cobrando a passagem um pouco além da inflação, mas que dentro de vinte dias este preço fica igualado porque a inflação vai chegar a atingir esse preço. Eu não lembro tamanho privilégio em favor dos empresários, nunca vi tamanho privilégio. Está-se cobrando do povo trabalhador, aquele que precisa do ônibus, uma passagem acima da inflação sob a alegação de que dentro de vinte dias o processo inflacionário atingirá esse custo. Mas se eu estivesse na CUT... ah se eu fosse da direção da CUT; ah se eu estivesse num comício do PT naquelas campanhas, Ver. Adroaldo, o que eu faria! Ah como eu não pude participar daqueles comícios do senhor..., se eu estivesse naqueles comícios do PT... (Aparte anti-regimental.) Sem história nenhuma. O PT não tem história nenhuma! Ora, que história tem um partido que nasceu cinco anos atrás. O PT tem história nenhuma, Sr. Presidente. Tem um bando de incompetentes, com algumas ressalvas. Agora, pegar e intervir sem experiência... Quero dizer o seguinte: interventor na SOPAL – lá tem um engenheiro. Gostei. Na Trevo também tem na parte mecânica um engenheiro. Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o resto é um desastre. É um desastre. O Senhor, Vereador, quando deixar esta Casa, daqui há três anos, vai ver uma coisa. Vai chorar porque vai ter que pagar uma passagem cara para pagar as dívidas do governo de V. Exª, contraída na má administração das intervenções. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 15h31min.)

 

* * * * *